sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Juvencio.


Eu já estava a postos.
Era aqui mesmo que eu ia matar o cara. Era só primeiro saber quem é ele. Olhar na cara do sujeito. Confirmar.
Toquei a campainha, a porta se abriu. Um moleque. Devia ter uns treze anos.
Eu perguntei pelo Rodrigo.
Sou eu, ele disse, e você quem é?
Apontei a arma na cabeça dele e disparei.
Eu odeio esse trabalho. Não me importo de matar gente que não presta. Já matei deputados, traficantes, maridos covardes que espancam suas esposas, pais violentos, ladrões, golpistas, bispos, padres, freiras, donos de restaurante e até cachorro. Mas matar essa criança que acabei de matar pra mim foi como me amaldiçoar mais ainda. Cavar mais a fundo meu buraco. Doeu como um pecado legítimo.
Não gosto de matar pivetes, mesmo que sejam ladrões, assassinos, estupradores e traficantes. Me dá a impressão de que vamos todos desaparecer. De que tudo está perdido. Sinto que dentro de mim algo mais vai se arrebentando aos poucos. A cada moleque morto.
Deus me perdoe, porque a minha profissão é matar. Assim mesmo desse jeito errado acho que estou agindo certo ainda que vós não gosteis. Estou limpando um pouco o mundo dessas criaturas. Tem muito deles por aqui e nós estamos de saco cheio. Se todo mundo resolvesse matar, cada qual seu próprio bandido, o mundo estaria bem melhor. As pessoas estariam mais seguras e o mal estaria mais contido. Mas e eu? Será que eu sou o mal? Será que eu próprio estou cavando meu destino? Ou já está traçado. E se, por exemplo, eu fui escolhido para fazer o que faço? Matar. Talvez seja, pois quando seguimos o nosso coração, quando fazemos aquilo que gostamos e que nos faz sentir livres e realizados é porque estamos fazendo o certo, aquilo que nossa alma busca. Sendo o que somos, somos felizes. Por isso eu mato. Gosto de matar, só me incomoda matar as crianças.