quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sem vida.

A covardia de não assumir, não querer reconhecer de jeito nenhum o que ainda sinto depois de tanto tempo, me consome e me conduz direto a esse precipício em que eu me atiro. E eu não tenho medo, é incrível. Esse fato é totalmente sincero. Não tenho como escapar desse sentimento. Sou prisioneiro dessa armadilha que eu mesmo preparei.
Com um resto de juízo, pouco, muito pouco mesmo, eu posso eventualmente assumir que também fui injusto com você, embora isso me torne muito mais covarde, e possa trazer à tona muitas outras coisas fundas e escondidas, que esperam chegar o momento de sangrar, sangrar, sangrar até um de nós dois morrer. Por isso não tomo muita consciência disso assim tão no meu intimo.
A luz de toda essa idéia me cega demais e faz doerem meus olhos. Talvez pela escuridão que você representa para mim. Como naquele dia no corredor da enfermaria, a luz fluorescente do teto fazendo arderem meus olhos, fazendo as correias doerem mais nos meus braços. A solidão e o abandono da morte, gota a gota, como gotejam os soros nas noites dos hospitais.
Sonhei que meu sangue escorria por dentro e afora de você, vazando direto para uma fenda enorme e escura que se abria no meio da terra, de onde saíam muitas cobras. Você me dizia algo e eu não entendia, eu queria correr, fugir de você para sempre, fazia um esforço tremendo para correr mas não saia do lugar.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Sem sentido.

Sim eu sou incrivelmente normal, sem precisar recorrer a nenhum, patologista, psicólogo, psiquiatra ou sei lá mais o quê. Eu mesmo dou conta de minhas loucuras, de esmiuçar e resolver minhas destemperanças, tudo dentro daquilo que sei, sou capaz sem precisar que eles vasculhem minha cabeça, cutucando querendo sempre encontrar um motivo pra culpar a mãe e vir com aquela bobajada de se auto perdoar, de mentalizar o anjo, que o amor cura tudo e que podemos tudo é só querer. Nasci com cérebro não nasci? Então pronto, não preciso desses putos.
Dentro de minha cabeça existem forças que nenhum patologista poderá decifrar.
Os rugidos, as sombras, as imagens de pedaços de lembranças, palavras, carne ferida e frases desconexas que habitam e ficam indo e vindo lá dentro, por isso demoro para atender o telefone. Os delírios de um anormal tem que ter conta e remédios para dormir senão não serão considerados autênticos, e o principal, tem que haver uma vitima. Irmã Virginia. Seus olhos são tão cheios de felicidade, me ensine a ser assim. Deus, que filme é esse? Agora ela está dizendo que Deus compensa mil vezes cada sofrimento. Me arrepio e mudo de canal. Qualquer informação vale a pena. Outro canal, as vezes a vida quer tomar tudo da gente. Como reagir. Mudo de novo. Sou lerdo pra essas coisas. Quem será que ligou? Odeio gente que não deixa recado. Mas eu também não deixo, nem pego os meus.
Agora sonhei com um buraco enorme e ficava acima de mim como se fosse num teto, mas não tinha teto era só um céu negro e o buraco me sugando, com um bafo quente, um ruído horrível, como se um milhão de mulheres estivessem sendo mortas.

terça-feira, 29 de julho de 2008


Sem ordem.


É sempre esse mistério dentro de mim, esse lado não identificado. É sempre lembrar você que mantém vivo esse baque. Esse peso no peito que depois fica como se houvesse um punhal sendo revirado. Uma sensação iminente de morte. Até hoje não sei entender por que associo a morte com a essa sensação. Não é raiva nem ódio, é mais como uma lição tardia, algo que vivi há muito tempo, e que só agora aprendo. E isso é perigoso, porque toda a violência com que te odiei também vem à tona. De uma forma mais definida e racional. Mais justificada. O inconsciente quando quer arruma motivos pra qualquer coisa, principalmente quando você esta disposto a enlouquecer alguém. A insegurança, é a base de todo mau caráter, não sei de onde veio isso, mas é a ultima coisa que pode acontecer é isso, a insegurança.
Dentro de mim, digo, na cabeça, porque nosso intelecto reside, agimos e vivemos no cérebro. O resto é tudo sistema nervoso. Mas não é sobre isso que eu quero falar. E sim sobre as doenças da alma. Mas ainda não tenho coragem de abordar esse assunto sem esbarrar cara a cara comigo mesmo, ou jogar tudo de forma diferente na sua cara. Quem tem medo de Virginia Wolf, Virginia Wolf, Virginia Wolf?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sem harmonia.

Não sei mais onde estou. Apenas meus pés estão e não a cabeça. O que penso sempre faz nascer em mim uma idéia equívoca de que sou lúcido. E isso não é verdade ou eu não estaria invejando essa tua inteligência doente.
Você faz que não se importa, mas é devido aos seus próprios conflitos que te atormentam, eu sei disso, do peso deles refletindo às vezes em teu olhar, tão doce e tão fundo. Pelo menos enquanto houver espaço nessa tua cabeça cheia de um pensar em vão, eles, vão estar ali te esperando pra te devorar, sei tudo isso.
Mas porque essa síndrome agora, bem no meio dessa tarde de toalhas, baseados, e videoteipes de si mesmo? Filmando seu próprio olhar querendo descobrir neles o que acabei de dizer sobre você? Você, com esse seu olho gótico de cristão legítimo. Sua intimidade me afeta mais do que pensas e é por isso que eu sou tão inseguro. Os sonhos com buracos continuam. Uma fenda enorme e rochosa se abrindo numa escuridão, e um enorme olho a me olhar.

domingo, 27 de julho de 2008


Sem forma.



Há no que eu sinto e em tudo o que faço uma paixão indistinta e dolorida, que age como um espeto furando a carne toda. Há um laço muito forte entre eu e você além da masculinidade aparente como subterfúgio. Nem sei o que digo mais. E entre nós o pacto de silêncio que me devora. Há um laço que é bem mais forte que eu, e fatalmente, que você. Temos medo e eu enfrento, você não. Há no meu amor uma escuridão que eu já conhecia. De vivência, de tantas horas que passei com você. Uma vontade de gritar com você te xingar, de fazer alguma coisa muito violenta, uma loucura. Esse olho na minha cabeça tomando conta de toda a minha louca imaginação. Em você é tudo tão apagado.
A loucura é minha vizinha aqui do lado. às vezes me pergunta se está tudo bem, assim que você sai. Sempre. É horrivel e belo te odiar. É também um desafio a algo maior que nos trouxe até aqui. É solitário. Amar-te é suicidio.

Sem Título.

As vezes fico só olhando o papel em branco sem nada vir à cabeça, nada pra balançar, instigar nem mesmo punir. Nada. Só o branco do papel me afrontando, como se dissesse, “e agora? O que você vai fazer? Porque não escreve simplesmente, deixa fluir os terrores da tua vista noturna. Teus escombros embaixo da cama, porque hein?" Só o papel em branco, a caneta na mão. A cabeça vazia.
Prefiro escrever tudo à mão, no papel, com calma para não perder nada do que se passa no oco escuro.
O que não acontece quando estou em frente à tela do computador, digitando furiosamente uma cena. Perco sempre a melhor parte. Por isso sempre acabo reescrevendo tudo, sempre um pretexto pra remexer, repisar, cutucar. E também me exceder. Viver é se expor demais feito um cais no entardecer. Sonhei com uma cobra coral. E também com uma gruta escura, enorme e funda. A escuridão não me assustava e eu só ficava ali, olhando o escuro sem ver nada.