quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Sem voz.

Estou afônico.
E minhas palavras empacadas num celeiro escuro do lado direito do meu inconsciente. O lado direito, saiba, é o racional, aquele em que você pode confiar. Que quando você faz uma merda qualquer , mas daquelas grandes, fica apitando o teu ouvido direito e você fica se desconcentrando de tudo, sem ter o que escrever, sem vomitar uma virgula, e perde até a voz, por mais que você tente ignorar? Mas o que é que a voz tem com isso?
Nesses dias tem andado pela minha cabeça umas estórias de mudanças e acho que vou começar por não mais gastar meus parcos dons literários, com palavras que digam o que sinto por você. Na verdade isso não me interessa mais. O mês de agosto lhe dá um aviso. Saia da minha cabeça, biltre, demônio, Lúcifer, Nosferatu, Leviatã, Asmodeu, Barrabás, Cascudo, Bode Negro, Satanás, Legião.
Fora daqui.
Do começo do jorro das novas palavras vou mergulhar de vez na ficção. Não gosto de ficar na ficção e nessa obcessão com você. Me dividir causa pane nos neurônios e no meu comportamento social, portanto saio fora de uma vez e abandono a realidade para me esconder de você sob outra identidade. Uma que você não vai saber.Mas um dia te pego. Você sabe ler?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sem pedaço.

Ontem o vento, aquele vento seco e quente, tão brutal numa tarde confortável, nessa lentíssima espreguiçadeira, nessa vastíssima avenida de poemas de Wally Salomão, esse vento trouxe teu nome, sei lá de onde, de que noites escuras, em que tento não me deixar dominar pela ruim sensação que isso traz. Mas quando vejo já estou jogado na noite numa boate qualquer, mas qualquer mesmo, até mesmo numa dessa de quinta, onde agora eu tento a todo custo dominar minha cabeça e não deixar afetar pela tua atmosfera, pelas lembranças, pelo teu rosto que vejo na minha mente o tempo todo, e que se integra tão bem com essa musica ruim me agredindo, piorando minha fúria.
Tudo o que eu tenho dito aqui, até mesmo minhas opiniões claras sobre você e tantas outras coisas, foi e ainda é, para causar uma ruptura no meu eixo, pra que o que eu sinto e o que eu digo sejam auto-imunes, ou seja não irão se deteriorar no tempo como as coisas que você disse pra mim. Mas até mesmo isso fica muito chato, por que acabo caindo numa armadilha. Falando tão mal de análises, terapias e tal, acabo eu mesmo não fazendo algo do tipo? Pois é, pelo menos eu posso contar com minha inteligência. É a única coisa que tenho minha mesmo. Mais nada.
Na verdade a ruptura ocorreu a muito tempo, só não sei se foi bom pra mim. Ainda continuo num limbo entre a dor da lembrança de ter te conhecido e o daqui pra frente sem você. Dar esse passo não me custa nada. Só me custa a vida.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sem cara.

Em algum átomo desses dentro de mim mesmo, desconheço esse conceito pesado que envolva o amor. O amor é por excelência o requinte da paixão. Limpo de toda a loucura das paixões e das obcessões. O perigo da morte, de repente, vir te visitar no escuro através dos olhos daquele cara que você gosta tanto.
Acho que o lance é esse mesmo, é cair na real, se esborrachar de cara no chão, saber qual é a tua realmente. Assumir todo o seu próprio lixo e ser quem você realmente é de verdade verdadeira sem truques ou fugas com explicações de terapias e processos de num sei o quê, onde ficam moldando o teu cérebro do jeito que querem até você aprender a se comportar como um idiota e poder viver na sociedade de hoje. Conviver entre as pessoas normais. E ainda paga por isso, e não é pouco. Paga bem pra ser como o resto pra poder ser aceito. Mas e você de verdade, cadê? Em que buraco você se enfia pra poder se suportar? Mas tudo bem, você merece ser aceito, é ou não é? Merece deixar de escolher um caminho em que seja você inteiro, total, sem máscara, nem fingimento, mesmo que doa, que abram feridas doloridas. Mesmo assim.
Zerar total, começar tudo outra vez. Sempre. Rodando em círculo.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Sem elo.

Sim, é claro que tudo que eu escrevo é para você, sem o que nada disso seria real nem teria sentido. No meio das palavras entre aquilo que você entende, pode haver uma verdade, ou muitas. Depende do sentido que você escolher tomar nesse labirinto. Aqui é tudo contrabandeado, os pensamentos, os sentimentos, as lembranças, as palavras de guerra...
Nas primeiras noites quando não conseguia dormir, eu vagava pela casa como uma assombração, destrancando as portas, as janelas, os armários, em todo o ambiente uma corrente que começava em mim, no meu rancor. Pus sangue na tua maldição. Sangue que eu vomito junto com essas palavras, como um sintoma de doença grave. Foi assim que eu fiquei.
É branca a dor que vem, quando se percebe que a vida não para, a vida continua em todo canto, as pessoas sem saber a desgraça que é sua vida, a coisa fedida que é dentro de você, digo, perceber de verdade mesmo. Depois de aprender muitas coisas e observar a vida e as pessoas. O lado negro delas.
Neste instante, enquanto eu aqui escrevendo essas palavras e você lendo, muita coisa acontece, nascimentos, mortes, despedidas, cortes, desmembramentos, as dores do amor jogado no lixo muitas vezes por um motivo obscuro, um qualquer, mas qualquer mesmo.
Alguém nesse momento sendo atropelado pela realidade, vendo de repente a pessoa se transformar diante de si. É a hora em que mais a solidão assusta. Na frieza de um amor sem nada. Que não foi sentido.
Foi-se talvez porque não devesse ter vindo. Porque não era real.
Eu não caio mais nessa de amor e entendo porque o mundo anda tão louco. Tudo ainda vai piorar , quando chegar a hora da bomba H, antes do anoitecer de vez. Como já aconteceu com você, ou pensa que eu não sei? Você acha que depois desses anos passados eu me desconectei de você? Do seu intimo? Da sua medula? Acha que eu não sei, que não sinto como você está? Muita coisa nessa vida não tem cura. Demora muito, mas muito mesmo. O toque do demônio e o coração aprisionado. Essas coisas da alma levam um tempão pra passar. Como as mais negras feridas.
Sonhei com um buraco negro na parede depois de entrar num aposento. Via a minha imagem num grande espelho. Era eu, mas tinha cabelo comprido, rosto, voz e idéias diferentes.

sábado, 2 de agosto de 2008

Sem tempo.

Onde os momentos febris em que eu me deleitava inventando, imaginando coisas, caçando prazeres loucos, pra nos divertir? Aqueles de antes dos teus olhos sumirem, se voltarem para algo mais sem sentido e aventureiro do que eu, minha alma e minhas palavras? À medida que o tempo passa e também a idade, vão-se derrubando conceitos sobre amor (que nunca foram definidos), como se algum tipo de filtro eliminasse aquelas sensações que você tanto conhece. Sabe que o próprio sentido carnal vai se tornando cru e impaciente. A carne então passa a ser vital, no que concerne ser passional e apto a ter paz sem ter que odiar. Ou te matar toda vez. Tudo o que guia a esfera terrestre, o que faz com que você, até mesmo alguém como você exista, se resume a só cinco elementos. Basta que você seja para que haja razão de existir, mesmo com toda essa escuridão. Porque você ainda me atrai tanto?
Sonhei que milhares de serpentes se enrolavam em mim querendo me sufocar numa escuridão e uma cratera enorme se abriu sob meus pés e eu caí.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sem nexo.


A verdade é que eu tenho ódio de te amar. E do que você significou para mim. Mas não me arrependo de tudo o que disse e escrevi e escrevo ainda agora. Nem das piores palavras. Tudo o que está dito, foi-se. Não se desfaz. Tem um ditado chinês, um provérbio, desses zen, que diz isso. É mais ou menos assim: A palavra dita, a flecha lançada, a pedra atirada são coisas que não voltam, sei lá o que, eu só lembro das figuras e do sentido do provébio.
Eu te odeio para me sentir vivo, sentir meu sangue correndo quente nas veias, fervilhar por dentro, ainda que seja por você. Ainda que eu descubra assim dessa forma dolorosa que sou capaz de sentir algo. É como se o coração morto, precisasse deste estimulo, dessa energia, que retiro da dor que essa faca há tanto tempo cravada me permite. Essa dor que seca tudo. É o ódio que seca e não a dor. A dor acorda. A dor enlouquece. Só dói quando penso em você. Quando lembro dos teus olhos. E teu nome que eu nunca mais disse.