segunda-feira, 1 de junho de 2009

Maurício.


As minhas primeiras lembranças são as vozes gritando. Bicha, bicha. As crianças, os moleques. Bicha, bicha. E muito tempo depois fui saber do que me chamavam. Até então sentia um misto de pavor e coesão no meu peito, coisa que só piorou com o passar das décadas quando as coisas já perderam totalmente o controle. Digo as coisas vindas do instinto, as que a gente não consegue controlar, por isso o mundo anda louco e as boas causas mais impossíveis ainda. Eu descobri tudo isso num instante entre ser currado e descobrir o sexo, mas essa estória fica muito difícil aqui é melhor deixar quieto. O pior de tudo é que apesar de ter apanhado tanto no começo, ainda sobrou um tempão que ao invés de poder fazer as escolhas certas, fiz as erradas e me tornei incapaz até de ser verdadeiro com meus amigos. Sou apenas uma projeção mental para eles, meus amigos. Não sou quem eles pensam que sou. Nunca pude me mostrar verdadeiramente por medo e por falta de confiança. E pelo meu caráter essencialmente gutural, emotivo e irônico, incapaz de respeitar ou levar a vida a sério. Mas isso é um problema interno, no peito onde se guardam as coisas velhas que começaram tudo isso, assim eu aprendi. Apesar disso tudo, dessas coisas que acontecem, ainda sobra um tempão pra jogar fora nos vícios, nos padrões viciosos, nas noitadas loucas que acontecem de repente e que quando a gente percebe está totalmente descarregado de qualquer traço de inteligência e lucidez. Mas minha força permanece a mesma, é incrível. Com tudo o que a vida usa para nos transmutar, apesar de alguns caminhos serem duros e escuros, eu continuo sempre aprendendo a seguir o meu coração. Sou muito errado eu sei, mas agradeço a todos que me fizeram chegar aqui assim. Sou mau, mas sou eu mesmo verdadeiro. Sem aquela máscara com a qual eu me apresentei a você pra te fazer gostar de mim. Não preciso mais disso porque eu estou livre.