Com um resto de juízo, pouco, muito pouco mesmo, eu posso eventualmente assumir que também fui injusto com você, embora isso me torne muito mais covarde, e possa trazer à tona muitas outras coisas fundas e escondidas, que esperam chegar o momento de sangrar, sangrar, sangrar até um de nós dois morrer. Por isso não tomo muita consciência disso assim tão no meu intimo.
A luz de toda essa idéia me cega demais e faz doerem meus olhos. Talvez pela escuridão que você representa para mim. Como naquele dia no corredor da enfermaria, a luz fluorescente do teto fazendo arderem meus olhos, fazendo as correias doerem mais nos meus braços. A solidão e o abandono da morte, gota a gota, como gotejam os soros nas noites dos hospitais.
Sonhei que meu sangue escorria por dentro e afora de você, vazando direto para uma fenda enorme e escura que se abria no meio da terra, de onde saíam muitas cobras. Você me dizia algo e eu não entendia, eu queria correr, fugir de você para sempre, fazia um esforço tremendo para correr mas não saia do lugar.